terça-feira, 6 de setembro de 2016

IS: Otoko Demo Onna Demo Nai Sei

12:00:00 Escrito por Nyu ,

Estamos em uma época cheia de ideologias e discussões acerca de grandes tabus sociais. Uma dessas discussões é sobre gênero e sexualidade, um assunto bem delicado pelo fato de muita gente não aceitar o que outras pessoas são. E assim surgem obras que usam essa discussão como tema para suas histórias.

IS é um dorama lançado em 2011, baseado em um mangá de 2003 com o mesmo nome. Já adianto que não sou de ver esse tipo de mídia, mas por causa do tema, eu resolvi dar aquela chance. Se você não gosta ou não é adepto em assistir doramas, te digo uma coisa: de uma oportunidade para esse aqui, porque vale muito a pena.

História

A história gira em torno de Haru Hashino, uma pessoa considerada IS, que é alguém que nasce sem um sexo definido, nem homem, nem mulher. Haru foi registrado como menina, mas durante seu crescimento, se identificava como menino, e assim foi criado.

Aos 16 anos, Haru decide que quer ser confeiteiro assim como seu pai, então decide fazer o colegial em uma escola que oferece esse curso. No entanto, seu corpo está sofrendo algumas modificações e se tornando mais feminino, o que poderia chamar atenção para seu caso, e para evitar constrangimentos futuros, o diretor da escola propõe que, se ele quer estudar lá, precisará ser como uma menina. Haru aceita tais condições, desde que não diga a ninguém que ele é uma pessoa IS.

No primeiro dia de aula, ele faz amizade com uma garota chamada Miwa, que acaba se tornando muito ligada a ele. As coisas parecem ser fáceis, mas aos poucos Haru vai percebendo o quão difícil é se manter em segredo, uma vez que ele foi criado para ser verdadeiro com as pessoas, e ainda precisa lidar com as angustias e medos da adolescência.

Sobre o Dorama

Normalmente, quando se pensa em alguma produção japonesa com pessoas atuando, vem a mente aquelas cenas trashes de filmes de terror, onde todo mundo força expressões, ficando uma coisa muito feia de se assistir. Mas não se preocupe, pois em IS a atuação é boa. Os atores se expressam bem, passando a emoção necessária para a delicadeza do tema da história.

Não conheço ninguém do elenco, já que eu não acompanhando esse tipo de mídia. Mas em geral, posso dizer que gostei de todos, já que os personagens são bem construídos. Ainda mais para um tema tão delicado e cercado de preconceitos, e é nesse ponto que quero me aprofundar mais.

IS significa intersexual, que está entre o feminino e o masculino, ou em uma palavra de compreensão mais fácil: hermafrodita. Mas utilizarei o primeiro termo, que é o significado da sigla.

Esse tipo de pessoa realmente existe na nossa sociedade. Normalmente essas pessoas se escondem, ou passam por uma adequação do sexo ainda quando crianças, para que não haja problemas quando adultos. Entretanto, os pais de Haru preferiram deixar com que seu filho escolhesse quando crescesse o que ele desejaria ser. É uma escolha muito corajosa, já que vivemos em um mundo extremamente preconceituoso e nada acolhedor para com pessoas diferentes, ainda mais em relação ao sexo e gênero.

No primeiro episódio, nos deparamos com o progresso de aceitação dos pais de Haru sobre sua condição ainda bebê, e como isso reflete no resto da vida daquela família. Aceitação é o tema recorrente dessa obra, atingindo o próprio Haru e todo o círculo social em que ele está inserido.

Eu me surpreendi com essa história. Ela tem um bom equilíbrio entre o humor e o drama, consegue expor informações sem ser muito massante ou chato, e nos faz se apegar aos personagens rapidamente. Recomendo fortemente esse dorama.

Minha Opinião (com spoilers)

Eu não lembro quem ou onde eu vi a recomendação para assistir IS, mas agradeço imensamente a pessoa que fez isso, mesmo não sabendo quem foi, ou se ela estará lendo essa matéria.

Toda a história é envolvente, e Haru é um ótimo personagem, mostra não só suas certezas e seu jeito honesto e verdadeiro de viver, mas também tenta ajudar Miwa a lidar com seus problemas familiares e de aceitação, mesmo que ela seja escrota com ele várias vezes. Tudo isso é explicado por conta da repressão da família que não aceita que ela tenha nascido IS, e querem de toda forma que ela seja uma mulher completa, o que faz com que ela cometa loucuras por não se aceitar.

Enquanto com Miwa a aceitação é pessoal, Haru precisa lidar com a rejeição social, que acontece perto do final do dorama. Ele acaba gostando de um rapaz, mas fica difícil lidar com esse sentimento, já que Haru é um homem, mas tem um corpo com características femininas marcantes. Além dessa dificuldade, quando ele resolve contar a todo mundo sobre quem ele realmente é, para ajudar a Miwa, percebemos a carga preconceituosa das pessoas por não entenderem aquela condição, sendo extremamente hostis com ele. O que é, para muitos no mundo, uma triste realidade.

Isso, de certa forma, mexeu comigo, e me impressionei que um país tão conservador como o Japão produziu uma obra tão sensível e respeitosa com uma minoria. Não sei, obviamente, como foi a recepção lá, mas vindo pra nossa realidade, se uma novelinha das 9 que tenha um casal gay já faz um estardalhaço, imagina se passasse um dorama com uma história dessas aqui? É por isso que acaba sendo algo de nicho, o que é uma pena, porque é algo tão bom, mas que passa despercebido.