“A vida de outras pessoas não importa”
Sekai Oni é um mangá escrito e desenhado por Uru Okabe, com 110 capítulos. Acabei chegando nele de forma completamente aleatória, e me surpreendi de quão boa a história é. Um aviso para aqueles mais sensíveis antes de continuar: esse mangá aborda alguns assuntos pesados e desagradáveis, e se você tem problemas em ler sobre isso, é melhor passar bem longe.
A história acompanha Azuma Shinonome, uma garota que foi morar com os tios depois da morte do pai e desaparecimento da mãe. Entretanto, seu novo lar é um ambiente extremamente abusivo físico, mental e sexualmente. Mediante a carga tão grande de estresse, ela adquire uma síndrome rara que a leva a alucinar com reflexos de coisas que não existem.
Não acompanhamos apenas a história de Azuma, mas também de outras cinco pessoas que sofrem do mesmo tipo de síndrome que a menina. Embora ela seja a protagonista, nenhum dos outros personagens peca em histórico, desenvolvimento, traumas e problemas.
Se você não acreditou no que eu disse antes, deixe eu reforçar a mensagem: todo o caminho até a metade do mangá é uma jornada pela vida das pessoas mais miseráveis que vai ver em um bom tempo. Embora tenhamos pelo menos três personagens relativamente sãos no grupo principal, os que sobram tem histórias assombradas por coisas terríveis e chocantes. Continua aqui? Ótimo.
Perturbados pelas visões e outros problemas, o grupo ainda é puxado contra sua vontade para um jogo bizarro pelo futuro da humanidade. Tutorados por um ser que se chama de Demônio Cheshire, eles acabam tendo que descobrir boa parte do que está acontecendo por experiência, já que a criatura não explica boa parte das regras até que seja tarde de mais.
Embora o mangá assuma um ar de torneio nesse ponto, ele consegue manter a qualidade. Na verdade, o jogo mortal é o catalisador para despertar os problemas mentais de boa parte deles. Entretanto, ao alcançar a metade do jogo, a qualidade do mangá cai um pouco: embora ele não perca a capacidade de impressionar e chocar, a história se torna muito mais branda, como um anime de luta padrão. Mesmo quando novos elementos e personagens são adicionados a história, ela se mantêm em uma qualidade menor que o início. A criatura apresentada como o vilão da história não é de todo interessante, apesar de ser bem desenvolvida. O mangá ainda peca um pouco mais com duas ações que ocorrem pela pura conveniência do roteiro.
Não cabe a mim dar spoiler do final da história. Basta dizer que ele é perturbadoramente vazio. Não por ser ruim ou por falhar em terminar a história, mas por deixar ganchos o suficiente para que o leitor entenda que, no fim, nem todos os problemas podem ser resolvidos.
Existe pouco a ser dito da arte. Ela não é bem-feita, e provavelmente sua falta de qualidade tira parte do impacto que a história deveria ter.
Não analisarei os personagens profundamente dessa vez, já que estou tentando poupar os spoiler ao máximo. Encare esse texto mais como uma recomendação do que uma análise.
Sekai Oni pode pecar em alguns aspectos, mas caso você esteja atrás de uma história séria e de teor pesado, é uma ótima indicação. Mesmo com seus problemas de arte, e os de roteiro na segunda metade, vale a pena ser lido.
Boa semana!