terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Volta no Tempo e o Inicio de Tudo

Esse artigo contém spoilers do final de Bioshock Infinite e Life is Strange. Leia por sua conta e risco.

Após terminar de jogar Life is Strange e ter que escolher a coisa mais difícil da minha vida em um game, justamente aquele final que cortou o meu coração, fiquei pensando no assunto "volta do tempo", "linhas temporais" e "mundos alternativos".

Vou usar a base científica mais promissora da internet: o achismo. Ao jogar ambos, eu notei uma semelhança no final de suas histórias: independente do que você fez durante o jogo, no final, nada daquilo realmente aconteceu.

O que?

Sim. Nota-se que no final todo aquele esforço para salvar as pessoas, todas aquelas loucuras que você fez e participou não aconteceu. Digo, aconteceu sim, apenas para você consertar a linha do tempo e do espaço para que toda essa merda deixasse de existir e que a vida rolasse como ela deve rolar.

Vamos então focar na história. Primeiramente com Bioshock Infinite: Sua história já foi destrinchada por várias pessoas, mostrando detalhadamente as variadas linhas de tempo e cada acontecimento importante nos diversos mundos paralelos. Mas minha intenção é apenas mostrar o loop infinito que o jogo traz ao tentar dar uma de Deus e mexer no que não deve.

Tudo começa quando Comstock utiliza a máquina de viajem entre o tempo e o espaço da doutora Lutece para ir ao mundo em que seu "eu" chamado Booker DeWitt vive para pegar sua filha. Booker é um cara super endividado e precisava de uma grana para quitar suas dividas e acaba dando sua filha para Comstock.

Os gêmeos Lutece, depois de passarem por variados mundos, contratam Booker para ir atrás da garota chamada Elizabeth, e resgatá-la da torre onde vive. Ela possui um estranho poder: pode abrir fendas que levam para outros mundos, sejam eles no passado, presente ou um mundo alternativo, o que normalmente é o caso.

Depois de todas as reviravoltas do jogo, Booker descobre que existe apenas uma forma de acabar com tudo: ele deve se matar no momento em que vira Comstock, e assim todo aquele loop temporal e viagens entre os mundos terminam. E assim acontece: Elizabeth afoga Booker - o seu pai - para que tudo aquilo jamais aconteça. E no final, após os créditos, Booker está em sua casa com seu bebê chorando, indicando que tudo voltou ao normal.

Agora vamos para Life is Strange.

Max tem um pesadelo com um furacão. Ela se encontra perto de um farol que cai de repente e então acorda no meio da aula de fotografia. No intervalo, Max vai até o banheiro feminino e lá ela tira foto de uma borboleta azul. Momentos depois entra no banheiro um rapaz atordoado e logo em seguida uma garota de cabelos azuis. Max ouve um tiro e ao esticar sua mão, algo bizarro acontece: tudo a sua volta começa a retroceder e ela volta alguns minutos antes do rapaz entrar no banheiro.
É nesse momento que Max descobre que pode mudar o futuro voltando ao passado e alterando as cenas. Ela é a unica que não é atingida pela volta no tempo, ou seja: se ela abrir uma porta destruindo a fechadura, ela pode muito bem entrar no quarto, voltar no tempo fazendo com que a porta se feche, ficando intacta como se nada tivesse acontecido. Assim ela pode fazer o que quiser ali e sair pela porta destrancando-a por dentro.

A garota de cabelo azul é sua melhor amiga, Chloe, que vive se metendo em problemas. Durante todo o jogo, muitas coisas acontece e Max precisa tomar decisões importantes que podem mudar o rumo da vida das pessoas. Mas nem sempre o seu poder ajuda, então ela precisa se virar da melhor forma que puder.

Fato é que a morte adora perseguir Chloe. E em todos os momentos Max está perto para salva-la da merda que se enroscou. Até que chegamos ao final e descobrimos que o furacão que está indo em direção a cidade foi causado pelos poderes de Max e seu constante uso para tentar ajudar as pessoas ao redor. É a teoria do caos posta em prática. E aqui você deve escolher entre voltar no tempo e deixar Chloe morrer no banheiro ou deixa-la viva, mas destruir a cidade com o furacão.

Ao voltar para o passado e deixar Chloe morrer, Max aparentemente não tem mais o poder de voltar no tempo - ou ao menos não sabemos se ela pode. Tudo o que aconteceu durante o jogo, todos aqueles laços de afeto que você construiu, mudam completamente. Sua vida seguirá o rumo que deveria desde o instante que ela entrou no banheiro e fotografou a borboleta.

Sem entrar em nenhum mérito cientifico, psicológico, místico ou qualquer coisa do tipo, a questão que quero levantar é: ao destruir o elemento principal que fez com que todas essas coisas acontecessem em ambos os jogos, tudo o que você viveu simplesmente não existiu.

É.

Todos aqueles tiros que você deu em Columbia e todas aquelas pessoas que você ajudou ou com quem brigou em Arcadia Bay apenas não aconteceram. Digo, aconteceram em algum momento da história do universo, mas que na realidade verdadeira elas jamais aconteceram.


E isso é ruim para as histórias? Não. Observa-se que no final de Life is Strange, Max lembra de tudo o que aconteceu em todos os mundos em que ela foi. Tudo o que sofreu e tudo o que viu parece estar gravado em suas memória. Assim as lembranças de Chloe estão lá em sua mente, como uma boa recordação de tudo que poderia ter acontecido se ela ainda estivesse viva.

Infelizmente não podemos falar o mesmo de Bioshock Infinite, uma vez que não sabemos mais nada sobre o que aconteceu com Booker, como ele se sente após tudo aquilo ter acontecido com ele, se ele ainda se lembra de algo.

Veja que cada jogo possui uma forma diferente de lidar com essas viagens temporais e espaciais. Bioshock Infinite não coloca tanto a questão de consequência sobre o futuro de Columbia. O que normalmente acontece quando Booker vai tentar resgatar Elizabeth é ele falhar e ser morto por ser o anti-cristo previsto pelo profeta Comstock. Você sabe que ele tentou muitas vezes, o que está implicito no inicio do jogo e que a gente só vem a perceber após dar final pela primeira vez. Sim, estou falando do momento em que os irmãos Lutece pedem para você jogar uma moeda para ver se cai cara ou coroa, e sempre caiu o mesmo lado da moeda todas as vezes em que ele foi lá tentar salvar a garota. A diferença é que quando a gente joga, é o momento que ele cumpre seu objetivo até o final.

Life is Strange utiliza a teoria do caos: cada ação mudará o que acontecerá no futuro. E essas interferências pode trazer consequências enormes e incertas. Quanto mais algo é alterado, pior ele pode acabar se tornando.

Porém, já adianto que Life is Strange pode ter uma segunda leitura sobre os acontecimentos, pegando um lado mais psicológico do que essa discussão que levantei. Isso requer uma análise mais profunda sobre o jogo e eu não sou psicologa para poder dizer com tanta propriedade. Mas como tudo na internet, posso usar do achismo para falar sobre algum dia desses.
No final, saporra nem aconteceu.