Existem várias formas de se contar uma história. Em livros, filmes, desenhos animados, quadrinhos e, claro, jogos. Independente da mídia, grande parte delas possuem um fato em comum: o conflito humano. Esse conflito se dá de diversas formas, pode ser psicológico, sociais, interpessoal, etc. Mas a grande parte dos personagens apresentados nessas obras apresentavam quase as mesmas características: homens (em sua maioria) ou mulheres heterossexuais e brancos. E essa característica não ficava apenas no personagem principal, mas se estendia para os demais ao seu redor.
Estamos no século XXI, ano de 2015, e ainda existem tantos tabus em nossa sociedade, coisas que poderíamos olhar com menos censura e mais compreensão. Por isso, existem certos temas que apenas encontramos em mídias indies, porque sua proposta será apreciada por poucas pessoas, o que é uma pena.
Apesar de vários jogos trazerem as mesmas fórmulas, existem alguns que estão se aventurando por novos terrenos, trazendo personagens diversificados. A Bioware é uma dessas empresas que fazem isso em seus jogos. Não é de agora que ela poe temas como sexualidade ou preconceito em seus jogos. Mass Effect e Dragon Age estão aí para provar isso.
Os primeiros jogos começarem com certa timidez, onde a sexualidade era o ponto mais "polemico", digamos assim. Enquanto em Mass Effect o protagonista era um ser humano que pode se relacionar com alienígenas, algo inusitado dentro dos jogos, em Dragon Age, apesar de elfos e anões, a bissexualidade e a homossexualidade é que deixavam as pessoas de cabelos em pé. Agora deixaremos o efeito em massa de lado e vamos concentrar na era dos dragões.
Como um bom RPG, relações entre os companheiros sempre existiram, normalmente seguindo pelo caminho da amizade. Mas as vezes os personagens se apaixonam e conforme o andar da carruagem, namoram e/ou se casam. Nos RPGs japoneses em geral tudo já é pré estabelecido, o herói - ou heroína - já tem seu romance e apenas esperará o momento certo para se declarar e ambos viverem seu amor intensamente após socar o vilão até a morte. Ou não, como em certos Final Fantasys. Pelo ocidente alguns RPGs seguiram pelo caminho das escolhas.
Em Dragon Age, você pode escolher quem você quer namorar durante sua jornada, e isso não é obrigatório. Em Origins, as escolhas consistiam em dois homem e duas mulheres. Mas apenas Morrigan e Alistair são héteros, enquanto Leliana e Zevran são bissexuais. Os demais membros da equipe não são romanceáveis. No segundo jogo da franquia a coisa segue para um caminho diferente: todos os personagens romanceáveis da equipe são bissexuais. Fenris, Merril, Anders e Isabela poderão ser o interesse amoroso de Hawke.
Vemos, através desses jogos que o único que não possui uma sexualidade pré definida é o personagem principal. Quem define os romances é o jogador. Ele ou ela, por definição, é bissexual, uma vez que pode flertar com todo mundo, até mesmo mudando de relacionamento quando achar que o personagem com quem está não lhe agrada, com restrições, é claro, para Morrigan e Alistair.
Imagine, apenas ser bissexual já pode ser considerado pervertimento na mente de algumas pessoas. A bissexualidade em nosso mundo é vista por muitos como safadeza, confusão, fase, indecisão, fetichismo ou traição do movimento - para os homossexuais.
Em momento nenhum no jogo isso é questionado, os personagens apenas aceitam sem problema algum a sexualidade alheia. Os dois primeiros jogos não tocaram muito nesse assunto, mas o terceiro veio chutando o pau da barraca com essa questão.
Agora temos dois personagens homossexuais em nosso grupo: Dorian e Seras. Dorian já tinha problemas com sua família, e sua sexualidade se tornou mais um deles. Não porque são homofóbicos, mas segundo um codex encontrado no jogo, ninguém liga quem é a pessoa com quem você se deita a noite, a não ser que você seja um nobre. Para garantir a linhagem da família, todos os nobres devem ter filhos. Mesmo que seja homossexual, é aceito que se case com alguém do sexo oposto, tenha apenas um filho e depois durma com quem quiser.
De todo modo, é um mundo onde não existe esse tabu sobre a sexualidade. Você pode ser o que você é sem sofrer preconceito por isso. Em um mundo medieval. Em um mundo virtual. Enquanto na vida real as pessoas se incomodam sobre a sexualidade de outras, mesmo que isso não os afete de forma alguma. Tratar desses assuntos dentro de alguma mídia é abrir espaço para discussões, e Dragon Age consegue fazer isso ao criar um universo com pessoas que levam essas questões de uma forma diferente.
Estamos no século XXI, ano de 2015, e ainda existem tantos tabus em nossa sociedade, coisas que poderíamos olhar com menos censura e mais compreensão. Por isso, existem certos temas que apenas encontramos em mídias indies, porque sua proposta será apreciada por poucas pessoas, o que é uma pena.
Apesar de vários jogos trazerem as mesmas fórmulas, existem alguns que estão se aventurando por novos terrenos, trazendo personagens diversificados. A Bioware é uma dessas empresas que fazem isso em seus jogos. Não é de agora que ela poe temas como sexualidade ou preconceito em seus jogos. Mass Effect e Dragon Age estão aí para provar isso.
Os primeiros jogos começarem com certa timidez, onde a sexualidade era o ponto mais "polemico", digamos assim. Enquanto em Mass Effect o protagonista era um ser humano que pode se relacionar com alienígenas, algo inusitado dentro dos jogos, em Dragon Age, apesar de elfos e anões, a bissexualidade e a homossexualidade é que deixavam as pessoas de cabelos em pé. Agora deixaremos o efeito em massa de lado e vamos concentrar na era dos dragões.
Como um bom RPG, relações entre os companheiros sempre existiram, normalmente seguindo pelo caminho da amizade. Mas as vezes os personagens se apaixonam e conforme o andar da carruagem, namoram e/ou se casam. Nos RPGs japoneses em geral tudo já é pré estabelecido, o herói - ou heroína - já tem seu romance e apenas esperará o momento certo para se declarar e ambos viverem seu amor intensamente após socar o vilão até a morte. Ou não, como em certos Final Fantasys. Pelo ocidente alguns RPGs seguiram pelo caminho das escolhas.
Em Dragon Age, você pode escolher quem você quer namorar durante sua jornada, e isso não é obrigatório. Em Origins, as escolhas consistiam em dois homem e duas mulheres. Mas apenas Morrigan e Alistair são héteros, enquanto Leliana e Zevran são bissexuais. Os demais membros da equipe não são romanceáveis. No segundo jogo da franquia a coisa segue para um caminho diferente: todos os personagens romanceáveis da equipe são bissexuais. Fenris, Merril, Anders e Isabela poderão ser o interesse amoroso de Hawke.
Vemos, através desses jogos que o único que não possui uma sexualidade pré definida é o personagem principal. Quem define os romances é o jogador. Ele ou ela, por definição, é bissexual, uma vez que pode flertar com todo mundo, até mesmo mudando de relacionamento quando achar que o personagem com quem está não lhe agrada, com restrições, é claro, para Morrigan e Alistair.
Imagine, apenas ser bissexual já pode ser considerado pervertimento na mente de algumas pessoas. A bissexualidade em nosso mundo é vista por muitos como safadeza, confusão, fase, indecisão, fetichismo ou traição do movimento - para os homossexuais.
Em momento nenhum no jogo isso é questionado, os personagens apenas aceitam sem problema algum a sexualidade alheia. Os dois primeiros jogos não tocaram muito nesse assunto, mas o terceiro veio chutando o pau da barraca com essa questão.
Agora temos dois personagens homossexuais em nosso grupo: Dorian e Seras. Dorian já tinha problemas com sua família, e sua sexualidade se tornou mais um deles. Não porque são homofóbicos, mas segundo um codex encontrado no jogo, ninguém liga quem é a pessoa com quem você se deita a noite, a não ser que você seja um nobre. Para garantir a linhagem da família, todos os nobres devem ter filhos. Mesmo que seja homossexual, é aceito que se case com alguém do sexo oposto, tenha apenas um filho e depois durma com quem quiser.
De todo modo, é um mundo onde não existe esse tabu sobre a sexualidade. Você pode ser o que você é sem sofrer preconceito por isso. Em um mundo medieval. Em um mundo virtual. Enquanto na vida real as pessoas se incomodam sobre a sexualidade de outras, mesmo que isso não os afete de forma alguma. Tratar desses assuntos dentro de alguma mídia é abrir espaço para discussões, e Dragon Age consegue fazer isso ao criar um universo com pessoas que levam essas questões de uma forma diferente.
Mas no final eu quero mesmo é dar destaque a um personagem: Cremisius Aclassi, ou simplesmente Krem. Ele é um personagem controverso desde o momento em que aparece. Um homem com uma aparência andrógena e uma voz ambígua. Qualquer pessoa ficaria confusa inicialmente, achando que se trata de um cara afeminado. Mas ao conversar com Iron Bull e sua equipe, conhecendo um pouco sobre cada companheiro, descobrimos mais sobre quem é Krem.
Te apresento Krem. |
Por algum motivo a Bioware ressaltou e ainda explicou sobre o personagem dentro do jogo. Dificilmente vemos personagens trans nos jogos, podemos citar Érika, de Catherine, que tem uma boa relação com os personagens do jogo, mas também existem casos como de Poison, que apesar de não ter nenhuma confirmação por parte dos produtores da Capcom sobre ela, vemos várias discussões se ela é uma mulher cis ou trans, e se for trans, se é cirurgiada ou não (uma discussão que eu considero desnecessária).
Enquanto a maioria dos personagens trans que aparecem nos games e até em mídias no geral são mulheres, Krem segue só (até o momento desconheço outro homem trans nos games) ao lado de suas companheiras. E essa falta de personagens trans é devido ao preconceito, seja do público, seja das empresas. Vivemos em uma sociedade extremamente conservadora, onde o diferente é rejeitado, onde as pessoas não podem ser quem elas realmente são por questão de sobrevivência. E quando quebram as correntes que as prendem, o mundo ao seu redor tenta massacra-las da pior forma possível.
Jogos são histórias, mas também são uma válvula de escape do mundo traiçoeiro que vivemos. Por mais que o jogo tente retratar nossa realidade, sabemos que nosso personagem é um herói ou uma heroína, alguém que vai fazer algo por outras pessoas, alguém que vai salvar o dia. Alguém que vai superar todos os obstáculos para chegar em seu objetivo. E ter pessoas que representem um pouco de si faz com que a pessoa se sinta acolhida, que saiba que ela também pode ser alguém importante, independente de como ela é. Infelizmente a questão das trans é mais complicada, mas para homossexuais ela se torna mais fácil com jogos como Dragon Age sendo produzidos.
Com tudo isso, apenas queria abrir espaço a uma discussão sobre a questão da sexualidade e das pessoas trans nos games, mostrando como um jogo colocou essas duas coisas em seu universo de maneira natural e simples. Que dá para fazer ótimas histórias quebrando preconceitos que existem em nossa sociedade, fazendo um mundo que seria agradável para todos. O jeito que a empresa tratou o assunto em seu jogo foi formidável, e espero pelos próximos jogos para ver mais coisas do tipo sendo construídas.
Tratei apenas de Dragon Age nessa matéria, mas existem outros jogos que abordam o assunto. Aguardo ansiosamente novos jogos que trarão essa postura responsável e madura sobre o tema.