terça-feira, 30 de junho de 2015

Defendendo Kill la Kill e sua Roupa "Depravada"

14:00:00 Escrito por Nyu , , ,
Já falei de Kill la Kill, mas lendo algumas coisas pela internet me fez coçar a mão e resolvi fazer um post defendendo o anime, ou mais especificamente as roupas das personagens.


Vamos ao que pode ser considerado um problema no anime: quando Ryuko Matoi e Satsuki Kiryuin se transformam usam roupas ultra sexys, principalmente a segunda. Segundo várias pessoas, quando as personagens femininas de qualquer midia, seja anime, mangá, séries televisivas, games, filmes, etc, usam roupas curtas é porque estão sendo objetificadas.

Não discordo deste ponto, pelo contrário, é exatamente isso que acontece em toneladas de histórias, muitas personagens femininas são relegadas a meros objetos sexuais ou colírio para os olhos masculinos. Mas acredito que isso é uma coisa que deve ser visto pelo contexto em que está inserido.

Kill la Kill é um anime que entra na categoria de "observar o contexto", afinal de contas, querendo ou não, o universo do anime envolve muita coisa, e uma dela é o empoderamento feminino.

"Como assim Nyu sua capeta em forma de pessoa? Empoderamento feminino onde existem closes de peitos, nádegas e ângulos que parecem tirados das revistas Playboy?"

Vamos começar pelo gênero do anime. Os personagens lutam com seus punhos, armas, ou qualquer coisa que parecer conveniente para bater em outra pessoa, podendo ser considerado um shounen. Além disso, a proposta do anime é ser Hue Br versão nipônica com vários animes shounen que seguem fórmulas prontas, e normalmente fazem muito sucesso.

E tem um segundo fator que eles pegaram: a fórmula Mahou Shoujo. Para quem não compreende o termo: "magic girls" ou "meninas mágicas", um estilo de anime onde garotas ganham poderes mágicos vindo de algum objeto para lutarem contra o mal, e a maioria delas se transformam, mudando suas roupas para as roupas que o objeto cria. O melhor exemplo é Sailor Moon. Ryuko se transforma e utiliza os poderes para lutar, então vou considerar que Kill la Kill é um Mahou Shoujo que zoa animes Shounen.

Alias, adoro as transformações das personagens, me empolgo pra caramba quando as vejo (o vídeo contém spoilers, veja somente a primeira transformação caso não queria estragar sua diversão assistindo o anime):



"TA VENDO! ESSE ANIME OBJETIFICA AS MULHERES!"

Primeiro de tudo, se você ta pensando nisso depois de ver esse vídeo e não terminou de ler a matéria, de um tapa na sua própria cara por mim e continue lendo, criatura precipitada.

A partir de agora haverão spoilers. Kill la Kill tem em sua equipe as mesmas pessoas que produziram Gurren Lagann e Panty & Stocking, então dá para entender o nível de absurdo e sexualidade que transbordam no anime. 

No primeiro episódio, Ryuko quer lutar contra Satsuki, mas não consegue nem derrotar o primeiro oponente, um rapaz do clube do boxe que usa um uniforme goku, e por causa da derrota ela corre até sua casa, parando coincidentemente encima de um alçapão que se abre. Ela cai em meio a roupas sujas, até o sangue de seu braço tocar em um uniforme de marinheiro, que ganha vida e obriga a garota a vesti-lo.

No momento seguinte, vemos Mako presa em uma espécie de cruz, e como é considerada a melhor amiga de Ryuko, ela é o alvo perfeito para fazer a garota fujona voltar, o que realmente acontece. Mas Ryuko volta com uma roupa extremamente sexy. Percebemos que ela é humilhada pelas pessoas ao seu redor, chamando-a de pervertida, até mesmo Mako a questiona de onde ela tirou essa roupa e porque a usa. Notamos que a garota está envergonhada, mas mesmo assim luta e vence o rapaz do boxe, destruindo a roupa dele em sequencia. Satsuki percebe que Ryuko é a peça que estava faltando em seus planos. E aqui está o primeiro episódio. 

Numa primeira olhada, não dá para perceber, mas quando se assiste pela segunda vez, sabendo de toda a história, as intenções ficam claras: inicialmente Ryuko tem vergonha de utilizar uma roupa sexy, tem vergonha de mostrar um gosto que ela tem para as pessoas, por que todos estão julgando-a por isso, a chamando de pervertida ou vadia, afinal, isso mexe com sua sexualidade, mexe com algo que em nossa sociedade faz com que uma mulher seja mal vista.


No segundo episódio, Ryuko enfrenta uma tenista que a julga pelas roupas o tempo todo. Há um momento em que Ryuko é golpeada violentamente e voa contra a parede de espinhos, ficando entre dois espinhos em uma posição constrangedora, e enquanto ela geme de dor, eu disse, de dor, pervertidos que ficam olhando psicopaticamente as partes da moça. Não importa se ela está com dor ou não, o importante é ver putaria, não é?

Não! Mas quem liga para a dor alheia? A intenção do anime talvez seja simplesmente de mostrar que existe muito pervertido naquela escola, e qualquer pedaço de pano a menos já os fazem enlouquecer, quem dirá ficar pelada, como acontece com a tenista no final do episódio, ao perder para Ryuko?

Isso fica explicito no pai e no irmão da Mako, dois grandes pervertidos que acham que só porque a Ryuko utiliza aquele tipo de roupa eles podem ficar encima dela, tentando espiona-la ou coisa do tipo. Pelo menos o pai da Mako melhora o comportamento, enquanto o menino só aprende depois que as roupas começam a dominar o mundo.

"Viu Nyu! Só há objetificação das mulheres, e você está expondo isso! Quero ver conseguir sustentar sua defesa agora, ta mordendo a própria língua! Já não basta as imagens e o vídeo, narra os dois primeiros episódios e olhe todo o machismo desse anime!"

Satsuki utiliza o Junketsu sem problemas nenhum. Ela não tem vergonha de mostrar sua sexualidade para ninguém, alias, utilizar o Junketsu, principalmente na forma transformada, a deixa mais poderosa, e sabe por quê?

Porque ela é dona de si mesma, ela é segura e ninguém a impede de usar o que ela bem desejar e sentir-se melhor, principalmente se aquilo lhe deixa poderosa. Ela deve seguir a "filosofia" de Valesca Popozuda: " A porra da boceta é minha". Ou seja: foda-se sua opinião de merda, seu merda, se é com essa roupa que eu sou mais poderosa do que já sou, eu VOU usar.

Agora voltemos ao vídeo e vejamos ele de novo. Todas as transformações (menos a segunda) demonstram as garotas vestindo suas roupas, uma coisa super comum em animes de Mahou Shoujo. Mas veja, até mesmo a mãe de Satsuki, uma mulher que deve ter uns trinta e tantos anos não tem vergonha de vestir o que bem entender, ela também esbanja sua sexualidade por ai. E porque uma mulher de trinta e tantos anos e mãe não pode usar as mesmas coisas que as filhas?

Ao contrário de Satsuki, Ryuko não é segura de si mesma, ela sente vergonha em usar Senketsu, e por esse motivo ela fica envergonhada nos primeiros episódios. Conforme os dias vão passando, e as situações onde ela deve usar seus poderes aumentam a cada instante, ela começa a entender o real sentido deles: ela precisa ficar pelada para poder usar seus poderes, ela precisa ser uma só com Senketsu, pois ele será sua pele. É mais ou menos isso que está na legenda em inglês desse vídeo. 

O que isso quer dizer? Ryuko percebeu que não dá para ficar se escondendo por causa do que os outros vão pensar. Quando ela se permite mostrar toda sua sensualidade, ela fica poderosa, e assim ela começa a ter controle de si mesma, como Satsuki. 

Era isso que seu falso professor Aikuro, o cara do Nudist Beach sempre dizia. Ou demonstrava. E qual é o inimigo dos Nudist Beach? As roupas! Não qualquer roupa, mas sim da marca Revocs, e qualquer roupa que utilize as Fibras da Vida em sua confecção para ser usada para o mau. Os Nudistas lutam contra a moda imposta mundialmente, já que na bizarra história do anime, as roupas querem destruir a humanidade, o planeta como um todo.

Alguém pode chegar e argumentar que as roupas de transformações das garotas são uma afronta para a defesa corporal, já que elas são abertas e deixam os órgãos expostos. Primeiramente vá reclamar com a Naoko Takeuchi, porque as Sailors usam um colan e uma sainha para lutar contra os inimigos, com a Shaft que poe vestidos nas menininhas de Madoka, com a Reiko que deixa as meninas de Tokyo Mew Mew desprotegidas, ou então com a Sunrise que deu lycra para as meninas de Mai-Otome, e depois venha reclamar dos trajes da Ryuko.

A sim, não se esqueça de avisar o Kishimoto, acho que os ninjas de Naruto também ficam desprotegidos dos golpes poderosos um do outro. Acho que a roupinha que mostra o peito do Sasuke não ajuda a protege-lo, só acho.

Satsuki e Ryuko são as mais poderosa entre todos os mocinhos, Ragyo é a inimiga mais poderosa, Mako é a sem poder mais poderosa que há, Nui é uma desgraçada que não morre fácil. Perceba que o anime inverteu o que normalmente acontece em animes em geral, enquanto a maioria das histórias os homens são poderosos, aqui as mulheres tem sua vez, e seu poder não restringe a sua aparência, mas sim a sua força e habilidade.


Digo isso porque o Japão é um país machista, e suas obras também o são, uma vez que ela é influenciada pela cultura. No Brasil não é tão diferente, é só ligar na Globo e ver os temas das novelas e como são tratados os personagens. Então aparecem obras como Kill la Kill que além de inverter a ordem de importância, traz coisas a mais.

Agora entende o meu ponto sobre que nem todas as roupas curtas ou sensuais de personagens são um problema? Tudo depende do contexto. Tem séries como essa que utilizam isso de um modo diferenciado, um modo que empoderam as mulheres. Em um local como o Japão, Ryuko e principalmente Satsuki são referencias importantes para as garotas. Se depois de tudo o que eu expus você ainda acha que o anime é extremamente objetificador e machista, me conteste, ficarei feliz em ler um ponto diferente.

Espere! Eu disse que essa postagem será gigantesca! Ainda não falei sobre os outros personagens.

Ainda no assunto de roupas, há algumas considerações para se fazer sobre a Elite 4. Ao menos com Ira Gamagori e Uzu Sanageyama existe uma estranha referencia a seus gostos ou atributos físicos. Ira é um homem disciplinador, que impõe respeito com sua presença, mas seus desejos ocultos são demonstrados em sua transformação: usando bandagens ao redor do corpo, ele vira uma múmia, e quanto mais golpeado, mais poderoso fica, podendo chegar em sua segunda forma. Caso o inimigo não inflija dor e sofrimento nele, ele mesmo o fará para mudar sua forma. A segunda forma utiliza chicotes, e seus golpes são bem sadistas. Ira pode demonstrar que é ele quem manda em todos, mas na verdade, adora receber e cumprir ordens de Satsuki, e pelos métodos de transformação, parece ser alguém que gosta de sadomasoquismo. Alguém precisa avisar isso para a Mako...

Uzu utiliza uma katana de bambu e suas transformações consistem em armaduras gigantes, e é exatamente por esse motivo que você está pensando: o fato de ter objetos grandes e poderosos é para compensar seu pênis pequeno. O próprio anime deixa isso claro diversas vezes, e bem óbvio em duas cenas de dois episódios em que ele fica pelado.

Nonon usa armaduras imensas e cheias de firulas, provavelmente porque ela quer chamar a atenção de Satsuki, já que essa demonstra interesse apenas em pessoas tão poderosas ou ambiciosas quanto ela mesma. Inumuta é um caso a parte e bem interessante. Ele é o personagem que mais me incomodou com sua ultima roupa, usada na ultima batalha. Esta é somente minha teoria após observar bem a cena de transformação e em sua roupa final: talvez, e só talvez ele seja um transex que apesar do corpo de homem, não mudou de sexo. Mas isso é um achismo meu por conta da roupa que para um homem é impossível utilizar algo tão apertado nas partes baixas:

Lucas já acha que isso representa sua falta de interesse sexual, ou seja, ele é assexuado. Não literalmente, mas da mesma forma que o tamanho do Ira: ele sempre é "maior do que todo mundo", seja isso duas cabeças mais alto que Satsuki ou realmente gigantesco como na imagem ao lado. O tamanho real (ou o volume na calça de Inumuta) simplesmente não são relevantes. Também é uma ótima teoria, e talvez a mais correta, mas isso nunca saberemos, já que em nenhum momento uma confirmação é dada.

E você, o que acha sobre Nonon e Inumuta?

Kill la Kill aparentemente parece machista mostrando um monte de moças semi nuas lutando, mas conforme os episódios passam, a coisa toma proporções diferentes e seus significados vão aparecendo. Tudo depende do contexto em que a história se passa e a posição que os personagens tomam, e aqui todos os personagens tem sua própria personalidade, sua própria independência, todos são capazes, tem opiniões fortes, aprendem com seus erros e melhoram conforme o anime progride. Infelizmente são poucas obras que demonstram isso, pois a maioria daqueles que produzem animações ou qualquer mídia televisiva tem enraizados conceitos machistas implantados deste a tenra infância. 

Apesar disso, muitos julgam a obra pelos seus episódios iniciais, pois é de nosso feitio julgar algo antes de conhecer, muitas vezes não dando chances a algo que é totalmente diferente daquilo que você está acostumado. O caso é diferente quando a obra já comece com o pé esquerdo, cheio de fanservice desnecessário, e que as personagens só estejam ali para chamar atenção dos homens, sejam outros personagens da animação, sejam os reais.

Um último argumento que não posso deixar passar batido: já vi gente reclamando que Ryuko é muito masculinizada. Acredito que esse tipo de argumento é utilizado por causa do jeito da garota que é rebelde, resolve as coisas na porrada, é explosiva, etc, e sabe como é né, mulher não deve ser assim, tem que ser doce e meiga! Dai eu te pergunto: com quem está o problema?

Espero que depois de tudo o que expus, possa ver Kill la Kill de outra forma. Agora fiquemos com uma imagem de um cosplay da Ryuko e imaginando o quão poderosa essa menina deve estar se sentido nesse momento: